Saturday, April 14, 2007

Ainda em tempo









Ele era para ser dela. Chamou-a com seus olhos pequeninos, com seu miado agudo cheio de convicção para uma miniatura de gato. Agarrou-se na sua camiseta com as unhas e não queria mais que ela o soltasse. Parecia dizer mamãe. Precisava urgente de uma mãe e aquela a quem escolhera não tinha muito tempo como perceberia mais tarde, mas tinha algum tempo para ele, para coversar com ele, para lhe dar comida, remédios e um colo fofo onde ele gostava de se aninhar mesmo quando ela estava muito ocupada e com pressa e tinha de tirá-lo dalí com jeito. Em seus olhos de outra espécie ela viu ele dizer "eu te amo" sem palavras num olhar que era só ternura quando ele esfregou após a cabecinha no chão numa carícia egocêntrica própria dos felinos.


Foi o seu companheiro mais inseparável, o mais fiel, o mais incondicional e o carinho fluia entre os dois sem obstáculos, sem conflitos, sem racionalismos e raciocinios que levavam ao julgamentos, a culpa e a condenação tão comum entre seres que vivem juntos. Com ele era tudo mais fácial, tão mais fácil que até mesmo o namorado dela adotou para si aquele bichinho de estimação que passou a ser dos dois e mais tarde seria do pequerrucho que estava a caminho de chegar ao mundo. Teriam agora um filho humano e um filho animal que deveriam explicar para menino que ele não era um brinquedo, mas um ser vivo capaz de amar a seu modo, um jeito que só os gatos tem de amar. Gosto deste jeito felino de ser, mas outros prefeririam os cachorros que eram bem mais extrovertidos e menos dorminhocos. Para isso devem ir a feira de filhotes e levar por pura graça aquilo que não tem preço: a vida de uma animal capaz de amar e tornar nossas vidas mais alegres e mais interessantes, mas com muita responsabilidade para nunca abandoná-lo.